Opinião: Um quadrinho que emociona, revolta e nos trás muitas reflexões sobre nossa sociedade e o que é ser humano. A autora de Grama entrevista Ok-sun Lee, sobrevivente da guerra, na infância era proibida de frequentar a escola por dois motivos: a família era muito pobre, passavam fome e o segundo motivo era que apenas os meninos poderiam ir à escola e ela era menina, a prioridade que a mãe lhe impunha era de cuidar dos irmãos. Por conta da situação financeira de extrema pobreza, uma dia a mãe lhe "vende" para um homem que promete cuidar de Ok-sun Lee e levá-la para a escola. Esse homem era dono de um restaurante e obviamente não a levou para a escola, a maltratava e a fazia trabalhar muito, após se recusar a fazer um "serviço" para um cliente ela é vendida novamente para outro restaurante e a situação é muito parecida ou até pior. Um dia ela é enviada para buscar algo e quando estava voltando dois homens sem dizer nada, apenas a raptam e a jogam em um caminhão junto com outras mulheres, Ok-sun Lee tinha 15 anos quando isso aconteceu. Descobrimos que as mulheres que estavam no caminhão estavam ali por motivos diferentes, algumas foram vendidas, outras raptadas, outras foram com a promessa de emprego. O destino dessas mulheres é cruel, são levadas e espalhadas em "Casas de Conforto", casas estas construídas pelo exército japonês para "satisfazer" seus soldados. A autora conta a história, mas não utiliza de cenas explícitas de estupro ou qualquer outra violência, nesses momentos ela coloca algo desfocado, quadro inteiro preto, passando a sensação da visão da vítima, ao fechar os olhos por exemplo ou as lágrimas embaçando sua visão. Além disso, a narrativa intercalada com a entrevista feita pela autora nos faz perceber que mesmo tudo o que esta mulher passou ela tem muita vontade de viver, tornando-se um ativista. Esse é um recorte cruel da guerra que se reflete até hoje, as sobreviventes dessas atrocidades buscam por justiça até hoje, a Coréia do Sul e o Japão assinaram um tratado em relação a isso, mas em nenhum momento chamou as vítimas, assumiu e se desculpou. Como disse inicialmente é revoltante, um recorte que particularmente eu desconhecia, e pensar que em pleno 2020 ainda há tráfico de mulheres, rapto, violência, com essa reflexão não posso deixar de agradecer a editora Pipoca e Nanquim por ter publicado essa obra, são fatos que não podem ser simplesmente esquecidos, não podemos mais repetir essas atrocidades, não podemos mais viver em um sistema patriarcal que diminui o sexo feminino e o vê como objeto ou posse, afinal não deveríamos todos ser tratados com respeito e igualdade? Uma HQ ao lado de Maus e Persépolis, NECESSÁRIA a qualquer pessoa, leitor ou não de histórias em quadrinhos.
Nota: 10
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Agradecemos a atenção e boa leitura!
- Capa dura: 492 páginas
- Editora: Pipoca e Nanquim (21 de julho de 2020)